[21.1.06]
[Notas de uma extraterrestre em Portugal]
Ou anotações, observações e impressões sobre esta terra estranha com gente esquisita que chama ônibus de autocarro e tela de ecrã.
Eu já passei dois meses "morando" em Portugal. Isso aconteceu em 2004. Foi uma experiência muito boa: tive que me virar sozinha para fazer as coisas que queria, fiz amigos em um lugar onde ninguém me conhecia e participei de algumas aventuras, ou seja, me meti em algumas roubadas (se bem que nem foram tão "roubadas" porque acabaram dando certo. Qualquer dia conto elas por aqui). Outra coisa que fiz durante esses dois meses foi reparar nos costumes deste povo tão parecido com a gente (afinal, falamos a mesma língua e eles nos colonizaram), mas ao mesmo tempo tão diferente. A seguir, uma série de observações desta que vos escreve:
Portugal é o mundo encantado das máquinas de auto-atendimento. Praticamente tudo é vendido nelas, desde comidas e bebidas até cigarros e seringas para viciados em drogas. Uma máquina bastante popular é a que vende camisinhas. Elas estão espalhadas pelas ruas de todas as cidades e são bastante acessadas. O interessante é que os portugueses (pelo menos os que eu conheci) usam essas máquinas porque acham constrangedor entrar numa farmácia para comprar preservativos. Têm menos vergonha de fazer isso no meio da rua, na frente da cidade toda. É, eu também não entendi. Talvez Freud explique...
Portugueses adoram andar em alta velocidade. A média indicada nas estradas geralmente é de 90 Km/h, mas a velocidade real passa dos 150 Km/h, inclusive nas curvas. Além disso, não prestam muita atenção no trânsito. Durante esses dois meses tive umas quatro experiências de quase-morte.
Algumas marcas têm nomes diferentes dos usados aqui. Por exemplo, Kibon se chama Olá. Para mim, perdeu todo o charme.
Ao contrário do que a maioria poderia pensar, os portugueses (os mais jovens) adoram os Mamonas Assassinas. É sério! Conhecem todas as letras e não se sentem nem um pouco ofendidos quando toca o vira. Lá também existem grupos que cantam música engraçadinhas. A que me ensinaram é de uma doçura e de uma sutileza incomparáveis. É assim: "Quando fores ao cagatório/ Veja lá o que vai fazer/ Se o cagalhão for grosso/ Vais ficar com o cú a doer". Não é linda?
Os pratos de comida contêm porções gigantescas. E as pessoas comem muito. Os principais ingredientes da mesa portuguesa são batata, feitas de todos os modo possíveis, e carne de porco. Bacalhau? Esqueçam, só é usado em almoços de família e comemorações.
A única coisa que os portugueses fazem mais do que comer é fumar (seguido de perto pelo hábito de tomar café expresso). E eles não têm o mínimo respeito: fumam em restaurantes, em lugares fechados, nos escritórios, enquanto estão trabalhando, e qualquer outro espaço que vocês imaginarem. Lá os maços de cigarro também vêm com advertências, mas nada tão leve quanto no Brasil "o Ministério da Saúde adverte que blá, blá, blá". Lá há uma mensagem curta e grossa: "Fumar Mata" de um lado e de outro advertências que variam entre "Fumar pode causar morte lenta e dolorosa", "Fumar provoca cancro (= câncer) pulmonar fatal" ou "Fumar prejudica a circulação e provoca impotência".
Eles adoram brasileiros. Assistem a todas as novelas da Globo, gostam das músicas (em 2004, "Tô nem aí" fazia um sucesso absurdo por lá), amam o nosso sotaque (dizem que a gente tem um jeito doce de falar) e as paisagens naturais do nosso país, não fazem piadas de brasileiro como todo mundo diz, andam com camisas do Brasil - não só a da seleção, mas também de outros times brasileiros e aquelas camisetas de turista. Tenho quase certeza que o maior orgulho português foi ter descoberto o Brasil.
Em Portugal há desemprego (muito alto, por sinal), crise econômica, corrupção no Governo, greve de funcionários públicos por aumentos, as universidades "públicas" também cobram mensalidades e a pirataria é uma das grandes responsáveis pela sonegação fiscal. Engraçado, conheço um país onde a situação é bem parecida...
Por Lady Sith às [11:25]
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