[5.1.06]
[Para garotos]
Não há nada mais previsível no cinema do que os filmes de ação, também conhecidos como "filmes pra macho"... peraí, já li algo parecido em algum lugar. Ah, foi exatamente desta forma que o texto passado começou. Isso acontece porque os filmes de ação são os equivalentes com testosterona das comédias românticas. Assim como as últimas, eles têm roteiro previsível, são capazes de atrair multidões aos cinemas e os espectadores sabem que, por mais que as coisas estejam dando errado, tudo vai terminar bem. Além disso, são a oportunidade perfeita para desligar o cérebro por vários minutos e se deliciar com explosões e frases de efeito regadas a baldes de pipoca.
Quando eu era uma adolescente metida a intelectual, detestava os filmes de ação. Dizia que eram o mais puro lixo do cinema americano, que as situações eram absurdas, que os enredos eram ridículos, que tinham buracos no roteiro e péssimos atores. Isso mudou quando assisti a Duro de Matar. Neste dia, que eu costumo chamar de dia da revelação, eu aprendi a deixar de me preocupar com a profundidade dos filmes e amar películas como Triplo X (isso mesmo, eu gostei de Triplo X e não tenho vergonha de admitir). Por isso eu me considero qualificada a dizer que filme de ação bom mesmo é aquele que segue a cartilha abaixo:
Os mocinhos: existem três tipos de heróis de filmes de ação. Primeiro, ele é o famoso "exécito de um homem só", ou seja, pode enfrentar sozinho milhares de inimigos. Este é um tipo atormentado, com algum problema no passado geralmente relacionado à família. Se ele tiver perdido a esposa, os filhos, o pai ou o amigo do primo da namorada do seu irmão, pode ter certeza de que irá vingar a morte de seu parente (ou quase parente). Segundo, eles são parceiros (policiais de Los Angeles ou Nova York) que inicialmente se dão mal e têm personalidades opostas. Um é maluco, engraçado, mulherengo e não gosta de seguir regras. O outro é casado (e pode ter algum problema na família) e seguidor fiel das regras. As duplas são compostas por um branco e um negro (ou asiático, ou italiano, ou um membro de qualquer outra etnia). Terceiro, uma equipe composta por pessoas bastante diferentes (lógico) devendo ter o fodão (traduzindo: aquele que destrói tudo que vê pela frente enquanto profere frases de efeito. É o personagem principal), o engraçado, o garanhão e uma mulher linda, sedutora e inteligente.
Os bandidos: antes da queda do Muro de Berlim, os vilões eram comunistas que queriam acabar com o modo de vida norte-americano. Como essa agora é uma raça em extinção, foram substituídos por gangues criminosas do leste europeu (traficantes de drogas, de armas ou qualquer espécie de contrabandistas) ou, como está em voga atualmente, por terroristas árabes que querem acabar com o modo de vida norte-americano. O que devemos saber sobre o vilão é que ele será interpretado por um ator com forte sotaque britânico, não importa qual a sua nacionalidade no filme.
A trama: é a mais básica possível. O herói deve evitar que o vilão conclua um esquema grandioso que envolve a dominação do mundo ou, pelo menos, coloque grande parte da população em perigo. Como as tramas devem ser um pouco rocambolescas para justificar o salário do roteirista, o mocinho geralmente descobre que o vilão que ele perseguia inicialmente é um mero aprendiz de malvado e testa de ferro para alguém muito pior (mas que também possui sotaque britânico).
As mulheres: as mulheres têm quatro funções básicas nessa espécie de filmes: usar pouca ou nenhuma roupa, servir de interesse romântico do protagonista, se meter em situações perigosas e se esgoelar até ser salva e morrer. Se a mesma mulher realizar todas as quatro funções, melhor.
As cenas de ação: como elas dão nome ao gênero (e justificam o orçamento do filme), devem ser caprichadas e, de preferência, totalmente inverossímeis. Aí somos brindados com lutadores malabaristas, carros que explodem sem nenhum motivo, perseguições que destroem metade da cidade, tiroteios, etc, etc. Aí surgem outras regras importantes desse tipo de filme: os vilões possuem uma péssima mira (cem deles atiram e não conseguem acertar nos heróis) e os mocinhos nunca se machucam, sofrem, no máximo, leves cortes (muito mal feitos pela maquiagem, vale ressaltar).
A explicação final: os produtores desse tipo de filme parecem saber o efeito que eles causam na audiência. Depois de duas horas de explosões e reviravoltas, seu cérebro já está anestesiado e é muito difícil entender as motivações e os planos dos vilões. Por isso, ele deve aprisionar o personagem principal e explicar tudo tin tin por tin tin antes de matá-lo. Depois de tudo explicado, o mocinho (que durante a explicação estava maquinando um modo de eliminar o vilão) mata o malvado e tudo acaba bem. Os personagens se reúnem em uma confraternização bem-humorada e o público vai para casa satisfeito.
Duro de Matar fez de mim uma pessoa melhor
Por Lady Sith às [17:15]
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