[29.7.06]

[Obrigada, Susie]


Recomendar um filme, um livro ou uma música para alguém é uma tarefa um tanto arriscada. Os fatores que levam você a gostar de algo são muito particulares. Pode ser porque o autor tem idéias parecidas com as suas ou aborda um assunto de seu interesse, ou porque fala algo que você está precisando ouvir em determinado momento da sua vida e você consegue se identificar com a obra. Aí é que está o risco de se recomendar: como nem todas as pessoas pensam igual a você ou estão passando pela mesma coisa, é batata que muita gente não vai gostar da produção artística indicada. E, entre esses, muitos ainda vão te cobrar por ter gasto tempo e dinheiro com algo tão ruim e chato.

No entanto, às vezes você gosta tanto de alguma coisa que tem vontade de contar para todo mundo. E foi exatamente essa a vontade que eu tive quando terminei de ler Uma Vida Interrompida. O livro conta a história de uma garota de 14 anos, Susie Salmon, a partir do seu assassinato. Isso mesmo, Susie foi violentada e morta em um milharal próximo da sua casa no dia 6 de dezembro de 1973 e é exatamente nesse ponto que a história começa. O livro é narrado por ela no céu - que, no seu caso, lembra as típicas High Scholl americanas, mas com balanços no pátio e sem a obrigação de assistir às aulas - e conta como todos aqueles que amaram Susie lidam com uma perda que se manifesta nas coisas mais banais, como o presente de Natal comprado antecipadamente ou a partida de Banco Imobiliário disputada com um jogador a menos. Deste ponto de vista privilegiado, ela vê seu assassino esconder todas as provas que levem a ele, observa sua família desmoronar e, aos poucos, se reconstruir e registra impressões sobre o que as suas pessoas queridas estão vivendo e recorda momentos importantes de sua curta existência. Falando assim, parece ser um livro extremamente doloroso e depressivo, mas ele é, na verdade, carregado de uma grande dose de esperança e inocência.

Apesar de contar a história da família Salmon, o principal tema do livro é outro: a necessidade de aceitar que certos acontecimentos em nossa vida não podem ser mudados. Isso está perfeitamente ilustrado na passagem onde Susie diz que teve vontade de sair do milharal, mas não foi embora e se pergunta por que não fez isso. A sua coordenadora no Céu simplesmente responde: "Não fez e pronto. Não fique quebrando a cabeça. Não adianta nada. Você morreu e tem de aceitar isso". Susie tem que aceitar a sua morte, que nunca mais poderá beijar o menino de quem gostava, ficar com a sua família e ter experiências novas como a sua irmã. Sua família e seus amigos têm que aprender a conviver com o fato de que ela nunca mais voltará para casa. Essa aceitação é importante para que eles possam deixar de viver no passado e possam ser felizes.

É uma lição simples, porém difícil de aprender. Quantas vezes não nos vemos tentando repetir uma situação em que fomos felizes? E quantas vezes não lamentamos por amigos que estão afastados do nosso convívio ou nos torturamos ao lembrar como éramos felizes em uma passado não muito distante? E tentamos fazer tudo isso voltar e ficamos tristes por não conseguir, ao invés de simplesmente aceitar que alguns momentos foram especiais por uma série de fatores que talvez nunca se repitam novamente e que os amigos crescem e que, infelizmente, talvez você não possa participar da nova etapa da vida deles. Aceitar essas coisas não significa se conformar ou esquecer, mas apenas guardá-las na memória para que elas sirvam como lembranças reconfortantes quando você precisar e não uma fonte constante de inquietação que impede que você viva a sua vida plenamente.

Eu costumo usar o modo como certas obras de arte me afetam como medida do quanto eu gosto delas. Sei que gosto de Cinderela em Paris porque me sinto no lugar da Audrey Hepburn quando Fred Astaire canta Funny Face. Gosto de Antes do Amanhecer/ Antes do Pôr-do-Sol porque Celine é o personagem que eu mais gostaria de interpretar no cinema (se fosse atriz, claro). Gosto do Morro dos Ventos Uivantes porque queria ter escrito cada palavra proferida pela Catherine Earnshaw/ Linton. Dessa forma, sei que gostei de Uma Vida Interrompida porque tinha vontade de entrar nas páginas do livro só para poder consolar aquelas pessoas, mesmo sabendo que eles não existem de verdade. E porque ele me ensinou algo que eu preciso aprender urgentemente. Faço minhas as palavras de Susie e deesejo a todos vocês uma vida longa e feliz.

    Uma vida longa e feliz para você também, Susie



    Por Lady Sith às [10:54]

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    [18.7.06]

    [Devaneios]


    Cena 01
    Ele: E aí, viu o jogo ontem? Gostou do resultado?
    Eu: Vi, mas só consegui acompanhar o finalzinho. Foi um jogão. Estava torcendo tanto para a Itália. Fiquei tão feliz quando fizeram os gols... Quer dizer, fiquei feliz até a TV mostrar a torcida alemã chorando. Aí fiquei com remorso. Preferia que a Alemanha tivesse ganho.
    Ele: Mas se a Alemanha tivesse ganho, os italianos ficariam tristes e você ficaria chateada do mesmo jeito.
    Eu: Eu sei. Por isso é que eu acho que todo mundo devia ganhar. Assim ninguém ficava triste.
    Ele: Mas é uma competição. Se nenhum time perdesse, não haveria campeão e não teria graça em assistir Copa do Mundo. Você não ia gostar do mesmo jeito.
    Eu (com aquela cara de "você está certo, mas bem que poderia ser do meu jeito"): É, eu sei. Mas seria mais divertido se todo mundo ganhasse.

    Cena 02
    (Dia de chuva. Por alguma razão, caminhos tomados para ir ao trabalho surgem no meio da conversa)
    Ele: Hoje eu passei pela Imbiribeira.
    Eu: Estava alagada?
    Ele (com cara de dúvida): Não...
    Eu: Ah, é. A Imbiribeira não alaga. Quem alaga é a Av. Recife. Eu sempre confundo as duas. Imbiribeira não é onde tem o aeroporto?
    Ele: É. Acho que você confunde porque a Av. Recife vai dar na Imbiribeira (ou o contrário, eu sempre me perco nessa história de nome de rua e não lembro do diálogo literalmente).
    Eu: Que coisa mais sem lógica. Se a Av. Recife vai dar na Imbiribeira, deveria ter o mesmo nome.
    Ele: Como?!
    Eu: É. As avenidas não deveriam mudar de nome a cada trecho diferente. Devia ser tudo Av. Recife.
    Ele: Mas, por essa lógica, as ruas não mudariam de nome nunca. A gente poderia percorrer todo o Brasil pela Av. Recife. Imagina sair daqui e chegar ao Rio de Janeiro sempre pela Av. Recife. Ficaria muito confuso, não?
    Eu: Não, seria mais simples para decorar o nome das ruas. Do jeito que é agora, parece até o Rio Amazonas, que recebe vários nomes ao longo do curso.
    Ele: Mas se o Amazonas não tivesse vários nomes, como a gente diferenciaria o rio principal dos afluentes?
    Eu: Sei lá, podia chamar os afluentes de Amazonas 1, 2, 3... Ficaria mais fácil.
    Ele: Tá. Digamos que essa sua idéia dos nomes das ruas seja adotada. Como é que seriam os endereços, já que todos moraríamos na mesma rua?
    Eu: É para isso que servem os números, ué. Para diferenciar os endereços.
    Ele: Mas os números seriam muito grandes. Ninguém conseguiria decorar. Todo mundo ia ficar perdido. Não ia dar certo.
    Eu (com aquela cara de "você está certo, mas bem que poderia ser do meu jeito", resmungo): Não tem lógica.

    Cena 03
    (Sinal fechado. Os dois atravesando a rua fora da faixa de pedestres. Um carro dobra de uma das ruas transversais para a avenida principal)
    Ele: Corre!
    (Eu continuo andando no mesmo ritmo. Ao chegar na calçada)
    Eu: Nem adianta gritar para eu correr. Me recuso a correr para atravessar a rua.
    Ele: Que tendência suicida é essa agora?
    Eu: Não é tendência suicida, só acho que não custa nada o motorista esperar o pedestre terminar de atravessar a rua. Você viu que ele saiu da faixa em que estava originalmente para vir pra cima da gente?
    Ele: Mas ele não tinha que esperar nada. Nós estávamos errados, atravessamos fora da faixa.
    Eu: Mesmo assim. O cara estava sozinho, tinha quatro faixas para andar. Por que ele tinha que vir justamente para a faixa que a gente estava terminando de atravessar? Ele também estava errado.
    Ele: E se o cara estivesse bêbado? Ele não ia pensar em não ir para a faixa em que a gente estava. Além do mais, nós estávamos errados e ele tinha o direito de escolher a faixa que quisesse.
    Eu (com aquela cara de "você está certo, mas bem que poderia ser do meu jeito"): Mesmo assim. Não custava nada ele ter esperado. Motorista mal educado.

    Por que as coisas não são da forma que eu acho que elas deveriam ser?


    Por Lady Sith às [15:41]

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    [12.7.06]

    [Vergonha alheia]


    Sabe como é sentir vergonha por atitudes tomadas por outras pessoas? Eu sei. E como. Não sei se é por causa da minha timidez ou do meu senso de ridículo super desenvolvido, mas eu sinto muita vergonha alheia. Quando vejo alguém fazendo, com toda a naturalidade do mundo, algo que me deixaria constrangida, não tem jeito: já fico com o rosto quente, as bochechas vermelhas, solto alguns risinhos nervosos e tenho vontade de sair correndo para pegar um lençol para esconder a pessoa e evitar que ela continue fazendo aquele papel embaraçoso em público.

    Existem muitas coisas que me fazem sentir vergonha alheia. Algumas delas são mais gerais e outras são situações bastante específicas. Entre as generalidades, uma das piores coisas são tombos. Como pessoa estabanada que sou, já levei muitos tombos nessa vida. Então consigo me colocar perfeitamente no lugar da pessoa que leva uma queda. Muitas vezes, não tenho nem vontade de rir quando alguém cai. Fico com tanta vergonha que vou logo ajudar a pessoa a levantar para ver se ela vai logo embora. Mas tem gente que adora prolongar a minha agonia e fica explicando o porquê de ter caído. Por que será que eles fazem isso? Eu não me sentirei nem um pouco melhor sabendo que a culpa foi do salto que prendeu em um buraco, dos desníveis da calçada ou da falta de atenção com os degraus da escada. Você está caído de quatro no meio da rua! Será que eu sou a única que está constrangida?

    Outra coisa que me deixa deveras acanhada são indivíduos que dão escândalo em público. Podem ser casais de namorados discutindo, amigos brigando porque acharam a divisão da conta injusta ou desconhecidos se agredindo devido a alguma provocação. Qualquer situação que leve uma pessoa a levantar a voz e fazer com que gente completamente estranha tome conhecimento de assuntos que são íntimos me fazem ficar constrangida. E eu tento disfarçar, procuro não ouvir o que está sendo dito ou não prestar atenção na briga, mas não dá. As vozes elevadas e os gestos chamam a minha atenção e eu fico olhando aquilo e me torturando, enquanto sinto uma vergonha absurda.

    Mas ultimamente nada tem me feito ficar mais embaraçada do que duas senhoras que fazem ginástica na praia. Eu explico: todos os dias fico esperando a minha carona para o trabalho na praia. De uns meses para cá, duas senhoras com seus cinqüenta e tantos anos passaram a fazer exercícios no calçadão. O problema é que elas fazem coisas completamente malucas com uma sincronia de fazer inveja as melhores equipes de nado sincronizado do mundo. Alguns exercícios são tão esdrúxulos que eu cheguei a dar nomes para alguns deles, como "adoração ao sol", "perna mole", "barrigada" e "fechando mala cheia". Então eu vejo diariamente duas senhoras com roupas de cores berrante apertadas, com a barriga de fora, fazendo movimentos completamente estapafúrdios e em posições constrangedoras. E observo que algumas pessoas passam fazendo aquela cara de quem está se esforçando para segurar o riso. Fico imaginando se elas também inventam nomes para os exercícios e isso me faz ficar com mais vergonha ainda por elas. Tenho vontade de me oferecer para pagar uma mensalidade de academia para cada uma, só para poder me ver livre desse tormento.

    No entanto, esta segunda-feira aconteceu algo que conseguiu superar as senhorinhas atletas no quesito grau de vermelhidão das minhas bochechas. Como meus leitores sabem, sou uma administradora formada desde o mês passado, mas as solenidades estão acontecendo todas essa semana. Segunda foi a aula de encerramento e uma parte do evento consistia no discurso da oradora de descerramento da placa. Nenhuma vergonha alhei que eu tenha sentido nessa vida poderia ter me preparado para aquele momento. A garota fez o discurso inteiro com voz de loura burra, soltou frases que nem a pessoa mais besta do mundo teria coragem de dizer - "pensei que ser oradora de descerramento da placa era só puxar um paninho" - ficou mandando beijos e chegou a empinar a bunda e dar uma leve rebolada em certos momentos. Além disso, foi "puxar o paninho" ao som de um coro de "tira, tira" entoado pelo bando de homens que fazem parte da turma. Minha vontade foi sair correndo do auditório só para não ter que assistir a esse espetáculo. Nunca em toda a minha vida senti tanta verhonha por outra pessoa. Ainda bem que não receberei o DVD com essa pérola.


    Por Lady Sith às [14:19]

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    [8.7.06]

    [O que está acontecendo?]


    Sei que a maioria das pessoas que leram o post passado ficaram sem entender nada. Quer dizer, acho que todos entenderam que algo importante estava acontecendo, mas não sabiam o que era. É relamente uma coisa muito importante e que mais cedo ou mais tarde eu teria que contar para todos que conheço. Por conta disso, resolvi abrir uma exceção no blog e falar sobre o que está acontecendo na minha vida. Essa é a maneira mais fácil de contar para todo mundo de uma vez só. Será a primeira e única vez em que o blog funcionará como diário, eu prometo.

    Vamos começar do começo. Minha família é carioca. Eles vieram para o Recife há cerca de 20 anos. Ultimamente, devido a vários acontecimentos, eles estavam decididos a voltar para o Rio de Janeiro. Uma das etapas dessa volta consistia em arranjar um emprego por lá para minha mãe e para mim, que me formaria no meio do ano e não tinha nada assegurado por aqui. Bom, fizemos o concurso da Transpetro (transportadora do Grupo Petrobras) e fomos aprovadas. Ficamos esperando a convocação desde março. Estava crente que eles só chamariam no ano que vem, mas o telegrama chegou na segunda-feira da semana passada pedindo que eu estivesse no Rio na quinta para apresentar minha documentação.

    Foi um Deus nos acuda. Ainda não tinha me formado oficialmente, então tive que colar grau, tirar carteira de trabalho e me registrar no conselho de classe em dois dias (sem contar que a terça-feira foi completamente perdida por causa do jogo do Brasil). Quinta-feira às seis da manhã eu já estava a bordo do avião que me levaria ao Rio de Janeiro. Chegando lá, a mocinha que me atendeu pegou as xerox dos documentos e disse que eu poderia voltar para casa para esperar a convocação para o exame médico. Vocês conseguem imaginar o tamanho da minha indignação? Passei um aperreio danado desde a noite de segunda e gastei uma fábula em passagem de avião para entregar duas xerox e voltar para casa. E olhe que eu tinha ligado para perguntar se não poderia enviar os documentos de alguma outra forma, mas a mocinha disse que minha presença era de suma importância. Vai entender...

    Enfim, essa história toda só para dizer que eu irei embora do meu querido Recife até o fim do ano. Perdi completamente o chão. Não estou aceitando muito bem a idéia de deixar o lugar onde eu cresci, os meus amigos, a minha casa, meu namorado. Mas é a vida, as coisas mudam e a gente tem que ir para onde estão as melhores oportunidades. Emprego não está fácil e eu não tenho condições de jogar um tão bom pela janela. Estou triste, mas sou forte e acho que conseguirei superar.

    Estou em Recife desde o sábado passado no aguardo desta nova convocação. Tomara que demore a chegar...


    Por Lady Sith às [15:11]

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