[19.1.07]

[Para fazer um (super) filme]


Aquela máxima científica que diz que na natureza tudo se copia é facilmente confirmada quando olhamos para Hollywood. A quantidade de aproveitadores de sucesso alheio que existe na terra do cinema não está no gibi – quer dizer, está. Vocês já notaram como os filmes de super-heróis são uma verdadeira febre? Tudo começou em 2000, quando Bryan Singer imaginou que seria bem legal fazer um filme dos X-Men. Bastou Wolverine e sua turma renderem uma fábula para que vários engravatados achassem bem legal encher os bolsos de verdinhas fazendo filmes de heróis.

Tudo o que eles tiveram de fazer foi seguir a fórmula de sucesso estabelecida em X-Men e Homem-Aranha. Neste momento você, leitor nerd devoto aos gibis, deve estar pensando: “esses filmes não têm fórmulas. Foram bem na bilheteria porque respeitaram a história dos personagens, que possuem vários fãs”. Neste momento eu olho para você e digo: meu querido, é claro que eles seguem um roteiro bem básico e facilmente copiável. Duvida? Pois eu provarei a seguir.

O herói: é um rapaz comum, tímido, que nunca foi popular e nutre uma paixão platônica por uma garota que o trata como lixo e não dá a mínima para seus sentimentos. Resumindo, é um perfeito banana. Ele vive sua vida desinteressante até que um dia algo dá errado em seu laboratório, ou ele é picado por um inseto radioativo, ou sua nave de pesquisa explode, ou acontece qualquer coisa bem esdrúxula que lhe dá super poderes.

O vilão: é uma pessoa mentalmente desequilibrada e com problemas familiares, mas comum. Isto se cientistas geniais puderem se considerados comuns. O vilão está desenvolvendo um projeto que revolucionará algum aspecto da vida humana, mas não consegue obter bons resultados com os seus experimentos e, portanto, tem dificuldades para buscar mais grana com os investidores. No auge do desespero, nosso obcecado cientista resolve testar sua invenção inacabada para provar aos donos do dinheiro que ela funciona. Só que o teste dá extremamente errado e acaba transformando-o em uma aberração super poderosa.

A descoberta dos poderes: o herói ganhou poderes, mas ainda não sabe disso. Ele acorda depois do incidente e segue com a sua vidinha. De repente percebe que alguma coisa está diferente: seus braços se esticam como se fossem feitos de borracha; uma gosma branca sai de seus pulsos; ele é capaz de percorrer centenas de metros com um simples pulo. Tomando consciência de sua natureza super, ele resolve testar seus poderes. Como bom looser, o herói levará uns tombos, baterá com a cara na parede e voará sem controle, provocando risos na platéia. Depois de domar seus poderes, ele passará a usá-los para coisas bobas, como se vingar dos valentões do colégio, conseguir dinheiro em lutas, trapacear em uma partida de basquete ou usar seu corpo flamejante para impressionar as garotas (aquelas que conseguirem ver um corpo em chamas e não ficar completamente histéricas). O vilão também ganhou poderes, e também não sabe disso. Ele acorda depois do acidente e volta ao seu laboratório. Tem um último desentendimento com seus investidores, fica bastante estressado e, durante a sua fúria, percebe que tem poderes. Como bom lunático, resolve matar todos aqueles que não acreditam em seu talento. E, por tabela, exterminar toda a humanidade. Sabe como é, ele precisa desopilar um pouco.

Caindo na real: o nosso herói precisa receber uma lição para dar um destino melhor às suas novas capacidades. Acontece alguma grande tragédia – um parente morre ou a vida de sua amada é colocada em perigo – que faz com que ele perceba que “grandes poderes trazem grandes responsabilidades”. Neste momento é interessante abordar o drama da inadequação do herói, enquanto gente e a nível de ser humano, na sociedade. Ele ficará triste por alguns minutos e decidirá combater o crime. Precisamente no mesmo instante em que o vilão realiza seu primeiro ataque, aproveitando um grande acontecimento na cidade, como a Parada da Independência, para colocar em prática o seu plano de vingança. Ele tenta matar seus desafetos e coloca pessoas inocentes em perigo, mas tem seus planos frustrados pelo surgimento do herói.

O romance: após seu primeiro ataque dar errado, o vilão resolve planejar algo muito mais maléfico, mortal e grandioso. Então o herói aproveita para fazer salvamentos mais corriqueiros, como resgatar o objeto de seu afeto de dúzias de enrascadas – as mocinhas têm uma capacidade infinita de se meter em roubadas. Em uma dessas ocasiões a ela se declara para o herói – sem saber quem ele é de verdade – e os dois trocam um beijo apaixonado. Você pode achar a cena forçada, mas ela é necessária para fisgar a parcela do público formado por menininhas românticas.

A luta do bem contra o mal: o vilão decide dar sua última cartada. Sua intenção é acabar com o herói, aquele cara bobo, feio e chato que estragou a sua diversão maligna, além de gerar caos, destruição e morte. Eles travam uma grandiosa batalha, recheada de explosões, efeitos especiais, correria, gritos da mocinha (não disse que ela só se mete em confusão?) e destruição de mais de metade da metrópole. O último combate resulta na morte (presumida) do vilão ou em sua prisão. Sempre é bom deixar uma possibilidade para que ele retorne em uma eventual continuação. O herói segue a sua vida combatendo os bandidos, desfrutando da admiração de toda a cidade e ganhando o coração da mocinha. O único problema é que só a versão super usufrui de todos esses benefícios. A versão banana, agora chamada de “identidade secreta”, continua sendo o mesmo banana de sempre.
* Texto originalmente escrito para a Promoção de Natal do Garotas. Ele originalmente também tinha uma foto, mas eu não encontrei no computador e fiquei com preguiça de procurar na intrnet.


Por Lady Sith às [10:54]

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[2.1.07]

[O Inacreditável Homem-Banana]


Dia 23 de dezembro às duas da madrugada. Dois amigos conversam no MSN*.

-- Olá. É tão difícil ver você aqui a essa hora.
-- Pois é. Estou tentando escrever alguma coisa para a Promoção de Natal do Garotas. Só pode enviar até hoje. E eu não consigo pensar em nada, por mais que tente.
-- Qual é o tema?
-- Super-heróis. Até tive algumas idéias, mas não consigo desenvolver nenhuma.

-- Diz aí as idéias. Talvez eu possa te ajudar.
-- Eu pensei em fazer um texto com o tema “quem quer ser um super-herói?”. Aí eu dava umas dicas de transformação. Por exemplo, quando você está atolado de trabalho e seu chefe fica te passando mais coisas com um prazo impossível de cumprir ou te cobrando trabalho atrasado. Aí seria útil se transformar em Hulk. Bastaria colocar uma roupa uns dois números menor, esperar ele chegar e abrir bem os braços, até a roupa rasgar. Ele ficaria tão assustado com a transformação que nunca mais te passaria trabalho.
-- Legal. Por que não escreve sobre isso?
-- É que eu não pensei em mais nada. Convenhamos, é meio difícil encontrar motivos para convencer uma pessoa a usar cueca por cima das calças...
-- Hehehehe. É mesmo. Você podia escrever um texto sobre os clichês dos filmes de heróis, daquele tipo que você posta no seu blog. É um tema bem legal.
-- Já escrevi. Eu falei que o herói tinha que ser um banana, expliquei a origem do vilão. No entanto, acho que não dá para ganhar ou ser publicada.
-- Ué, por quê?
-- Porque as Garotas vivem escrevendo textos deste tipo. Nem é criativo.
-- Hmmm... Então por que você não cria um herói?
-- Seria bem legal, mas eu não consigo pensar em nada.
-- Pô, mas você mesma deu a dica. Escreve sobre o Inacreditável Homem-Banana!
-- HAHAHAHAHAHAHAHAHA!
-- Tá rindo do quê?
-- Homem-Banana? Era para levar a sério?
-- Lógico, cabeção.
-- Fala sério! Como foi que ele ganhou os poderes? Foi fazer a simpatia de enfiar a faca virgem na bananeira, mas não sabia que a árvore era mágica? Aí ela se revoltou e rogou uma praga nele, o transformando em uma banana? Meio ridículo.
-- Não foi assim que ele ganhou os poderes, sua chata! Eu também não ajudo mais.
-- Não precisa ficar amuado. Conte sobre o surgimento do Homem-Banana.
-- Rodolfo Rodrigues (tem que ter nome e sobrenome com a mesma inicial) era um órfão nerd e meio perseguido no colégio. Gostava de uma menina chamada Fabiana Freitas, que nem sabia que ele existia. Um dia ele comeu um cacho de bananas, mas não sabia que ele estava contaminado por agrotóxicos. O veneno agiu no organismo dele, dando os superpoderes.
-- Que seriam?
-- Ah, ele poderia jogar casca de banana para os inimigos escorregarem. E fabricaria bananas explosivas. É uma analogia com banana de dinamite. Diz aí, não é genial?
-- Genialmente estúpido? Ele tem uns poderes meio bestas.
-- Mas você é um porre mesmo. Pior é o Batman, que nem tem poder. Putz, adorei o Homem-Banana. Ele poderia voar. Fabricar umas asas com folhas de bananeira...
-- Ia ficar um treco meio mambembe. Acho que seria melhor ter um carro. É mais style.
-- Ué, já está gostando da idéia?
-- Não, estou só te incentivando para ver onde isso vai parar. :D
-- Ridícula. Vamos ver, ele teria um carro e... Caraca, você vai adorar essa idéia! Um carro em forma de banana boat! O Banana-móvel! Aí ele poderia ser um carro anfíbio. Andar na água e na terra.
-- Nada discreto esse Banana-Móvel. Os inimigos iam ver logo quando ele estivesse chegando...
-- Mas ele poderia ter só a forma do banana boat. Não precisa ser amarelo.
-- Assim fica melhor. E os inimigos?
-- Já tinha pensado nisso. O vilão será o Dr. Macaco. Ele era um cientista genético que trabalhava criando animais super inteligentes. Um dia faltou luz, as jaulas se abriram e ele foi atacado pelos macacos. Ficou ainda mais inteligente do que já era, mas com características de símios. E bolou um plano maligno.
-- Comer o Homem-Banana! KKKKKKKKK!
-- Nem comento mais as suas piadinhas infames. O plano do Dr. Macaco era criar uma fórmula para transformar todos os habitantes da Terra em macacos. Mas eles seriam burros. Nós voltaríamos vários estágios na evolução e ele se transformaria em um ditador, por ser o mais inteligente. Pronto, já tem todo o pano de fundo para o Homem-Banana. É só escrever uma das aventuras dele.
-- Sabe, acho que vou mandar esse texto assim mesmo. Se elas não acharem criativo, podem ao menos premiar a minha cara de pau. Você deixa?
-- Claro, mas se você ganhar eu vou querer uma parte do prêmio.
-- Ok. Valeu pela ajuda com o Homem-Banana.
-- Boa sorte. :)


* Esse texto é uma obra de ficção. A autora não é tão chata e nem tem amigos tão infames a ponto de criar algo parecido com o Inacreditável Homem-Banana.

P.S.: Esse texto foi escrito para a promoção de Natal do site Garotas que Dizem Ni. Eu tinha gostado muito do texto, mas achava que não teria muita sorte na promoção. Qual não foi a minha surpresa ao ligar o computador ontem e ver que ele foi publicado (clique aqui para vê-lo em todo seu esplendor)! Ainda não estou acreditando. E estou mais feliz do que pinto no lixo.


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Orgulhosa: meu texto no Garotas e na chamada de capa do IG



Por Lady Sith às [11:45]

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