Os personagens: o par central é formado por dois atores muito bonitos e que formam um casal lindo. Ela, apesar de ser encantadora, é uma criatura chata, maníaca por controle e independente (não me olhem com essa cara, os homens parecem achar que esse é um grande defeito). Ele, apesar de ser encantador, é um sujeito imaturo, mimado e que tem medo de relacionamentos (o maior em que ele esteve envolvido durou três semanas). Um deles (ou os dois) tem um(a) amigo(a) atrapalhado(a) que escuta pacientemente todos os seus problemas e serve para colocar um pouco de comédia no romance.
O encontro: personagens de comédia romântica não se conhecem em bar, no trabalho ou no colégio e nem apresentados por amigos em comum. Isso é coisa de pessoas banais. Eles podem até trabalhar na mesma empresa, mas isso é algo que só descobrem depois. Nestes filmes as pessoas se conhecem em uma viagem de carro para a faculdade onde vão estudar (o fato de dividir um carro com um completo desconhecido é mero detalhe), no aeroporto, após brigar com seus respectivos, ou disputando um último par de luvas em uma grande loja de departamentos em plena época de Natal. Quanto mais inusitado for o primeiro encontro, melhor.
A convivência: como são pessoas muito diferentes, os dois se detestam de cara. E fazem questão de demonstrar isso, seja em encontros esporádicos ou no dia a dia. O principal hobbie de um é transformar a vida do outro em um inferno. Assim, ele se diverte atormentando-a e mostrando que ela não está sempre certa. Já ela adora gozar das idéias e atitudes dele e parece achar hilário mostrar como ele é um completo babaca. Apesar dos conflitos, os dois já trocam olhares furtivos, que denunciam que eles estão, na verdade, completamente apaixonados.
A paixão: eis que algo acontece que obriga os nossos protagonistas a deixar suas diferenças de lado e se unir. Os dois ficam isolados em algum lugar devido a problemas metereológicos (tempestades ou nevascas), ou têm que fazer uma viagem juntos, ou precisam investigar uma coisa importante sobre a vida de um deles, ou um dos pombinhos rompe com o(a) namorado(a) e adivinha quem é a única pessoa disponível para oferecer consolo? Durante esses preciosos instantes sozinhos os dois descobrem que são carne e unha, almas gêmeas, as metades da mesma laranja, como diria o grande Fábio Júnior. Neste momento, eles devem trocar um beijo apaixonado (os mais avançadinhos fazem mais do que isso, mas nada é mostrado, apenas sugerido).
A separação: é aí que todo o cinema suspira e pensa que o amor é a coisa mais doce... mas como a felicidade é uma arma quente, algo acontece para separar os nossos pombinhos. Ele descobre que ela o achava um idiota metido e que falava mal dele para todas as amigas, ou ela descobre que foi objeto de uma aposta dele com os amigos (ou qualquer outra coisa que a faça se sentir usada), ou um deles revela que está comprometido (e deve se casar) com outro, ou ele percebe que está apaixonado e passa a fazer tudo para evitá-la e magoá-la (afinal, ele tem medo de se envolver). Depois de uma briga homérica e um vexame em público, cada um parte para o seu lado.
A fossa: seguem-se vários minutos de tristeza regados a músicas românticas (aquelas que tocam nos trailers). Eles tentam seguir com as suas vidas, mas percebem que tudo perdeu a graça. Eis que um deles se dá conta de que nos preciosos meses, dias ou horas que passaram juntos o mundo parecia fazer mais sentido, o céu era mais azul, as pessoas eram mais felizes e tolerantes, os motoristas de ônibus obedeciam as regras de trânsito e os políticos eram menos corruptos. Ele não pode mais imaginar a vida sem ela (o contrário também vale) e decide ter seu grande amor de volta.
As pazes: esta é a parte da perseguição, onde um dos dois está indo embora (aparentemente só se cura dor de cotovelo mudando de cidade) e o outro vai atrás para fazer as pazes. Aqui também vale a regra do quanto mais inusitado, melhor. E tome perseguição ao táxi do amado pelas ruas de Nova York (com direito a parar o trânsito), loucas correndo de camiseta e calcinha pelas ruas de Londres em pleno inverno, interrupção de casamentos e declarações de amor em reuniões de família, amigos ou trabalho. Depois de um discuso básico na linha "não posso viver sem você, você me completa, vamos esquecer tudo o que passou e ficar juntos" os dois trocam um último beijo apaixonado e sobem os créditos. E muitas pessoas deixam o escurinho do cinema acreditando ainda mais na tal história do sapato velho...