[19.6.07]

[Minhas coisas favoritas]

Acordar de madrugada e descobrir que tenho mais alguns minutos de sono. Ser boba. Ter alguém que embarque nas minhas bobeiras. Inventar coreografias malucas enquanto escuto música quando estou sozinha em casa. Fazer piada dos programas de TV. Amigos. Jogos de tabuleiro. Reuniões de amigos para jogar jogos de tabuleiro.

O barulho do mar. Ouvir música bem alta. Silêncio. Dormir com o barulho de chuva na janela. Deitar em lençóis limpos. Ver repetidas vezes a minha cena preferida de um filme. Ler um bom livro. Passar pelo varal com roupas recém lavadas só para sentir aquele cheirinho bom de limpeza. Cheiro de grama molhada.

Crepe de chocolate. Bolo de chocolate. O aroma do chocolate. Chocolates. Andar na praia. Ver crianças brincando. O sorriso da minha avó. Sessões de cinema. Ter momentos de solidão e ficar quietinha no meu canto. Ter companhia. Embalagens bonitas de presentes. Livros novos. Receber e-mails, cartas ou mensagens no celular.

Rir descontroladamente na milionésima reprise de Friends. Caixas de lápis de cor. Ficar de chamego com o namorado. Longas conversas. Silêncios cheios de significado. As paredes azuis do meu ex-quarto. Ver fotos. Comer pastel na feirinha de Boa Viagem. Sentir o vento batendo no rosto. Imaginar uma trilha sonora para cada momento.

Pizza. Picar papel. Ewan McGregor cantando “Your Song” em Moulin Rouge. Reler cartas antigas. Reencontros. Estourar plástico bolha. Pipoca. Andar com ou sem destino. Guardar objetos na minha caixinha de lembranças. Encontrar significados em coisas aparentemente sem importância. Ovo frito com gema mole.

Reuniões de família na casa de vovó. As pontes do Recife Antigo. Abraço apertado cheio de saudade. Procurar desenhos em nuvens. Lua cheia. O Morro dos Ventos Uivantes. Céu azul. Sorvete. Boas notícias. Ficar feliz ao ver que outra pessoa está feliz. Lojas de decoração. Bichos de pelúcia. Fim de tarde.

Essas são algumas das minhas coisas favoritas.

* Texto inspirado pela Vivi, com quem tenho algumas coisas favoritas em comum.
** Esclarecimento: eu queria mesmo que a minha infelicidade fosse falta de homem ou de namorado, pois seria uma coisa muito mais fácil de se resolver. Minha infelicidade vem do simples fato de do dia para noite ter abandonado o lugar onde vivi por 23 anos em troca de uma coisa que deveria ser boa, mas não é (acreditem em mim), de estar longe dos amigos, de não ter mais casa ou privacidade, de estar afastada de algumas das minhas coisas favoritas. O desabafo foi uma mistura disso tudo. O namorado só foi o mais enfocado por causa da data.


Por Lady Sith às [10:46]

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[12.6.07]

[Desabafo]

Então você lembra a época em que não tinha namorado. Você encontrava seus amigos com freqüência, ia sozinha ao cinema ou dar uma volta na praia e se sentia perfeitamente feliz ouvindo música alta ou lendo um bom livro. Não havia nada extremamente terrível em ser uma sem-namorado, apenas as desvantagens normais desse estado, entre elas uma coisa chata que batia de vez em quando chamada solidão. A única coisa que você achava mesmo insuportável era agüentar a chateação de suas tias-Mirtes que sempre que te viam tinham que perguntar se você tinha namorado. Você dizia que não, não tinha, mas que sim, estava feliz assim. Ao que elas respondiam com um sorriso amarelo em sinal de concordância enquanto pensavam internamente “ih, tadinha. Se continuar nesse ritmo vai ficar encalhada”. Aí chegava o Dia dos Namorados e você percebia que havia coisa muito pior do que o interrogatório das suas tias. De repente surgiam flores e corações em todos os lugares, os noticiários só exibiam matérias sobre os presentes que você poderia dar para o seu namorado (para quem?) ou sobre programas para fazer a dois (que dois?) e parecia impossível andar pela rua sem se deparar com casais posando de apaixonadinhos e se tratando por apelidos melosos e ridículos. Você tinha certeza que o 12 de Junho era uma data demoníaca inventada por algum sacana com o único objetivo de tripudiar da sua condição de sem-namorado. Tudo o que você queria era que isso passasse logo para que você pudesse estar sozinha em paz sem ninguém lembrando 50 milhões de vezes por dia como você deveria ser infeliz por não ter alguém para chamar de seu.

Só que um dia você (finalmente) arruma um namorado. Você continua encontrando seus amigos com freqüência, indo sozinha ao cinema ou dar uma volta na praia e se sentindo perfeitamente feliz ouvindo música alta e lendo um bom livro, mas você percebe como todas essas coisas ficam melhores quando se tem companhia. Sua vida passa a ser muito mais divertida – se você teve a sorte de encontrar um cara bacana e se não for uma namorada pé-no-saco, óbvio. Até as chateações das suas tias-Mirtes – porque tias-Mirtes que se prezam têm que arranjar motivos para te aporrinhar mesmo que a sua vida seja a mais supra-sumo-ultra-hiper-mega-maxi-top-perfeita do universo – não parecem assim tão ruins. No entanto, você percebe mesmo que as coisas estão diferentes quando passa a achar que o Dia dos Namorados é uma data agradável. Ok, você ainda quer que todas as flores e corações se explodam, ainda odeia as matérias especiais dos noticiários e ainda sente náuseas ao ver casais posando de apaixonadinhos e se tratando por apelidos melosos e ridículos, mas você compra um presente legal, escreve uma cartinha legal – porque se o Dia dos Namorados é uma data inventada pelas companhias de cartões pra fazer as pessoas se sentirem como merda, não é você que vai sustentar esses tratantes – e pensa num programa legal (nada que envolva jantares românticos ou outros clichês parecidos) para vocês fazerem. Você deixa de achar que essa é uma data demoníaca e consegue se sentir feliz no dia 12.

Aí acontece uma merda gigantesca na sua vida – merda essa que, para seu espanto, algumas pessoas insistem em dizer que foi uma coisa boa, muito boa, realmente genial – e você se torna uma com-namorado-porém-estamos-longe. Você também não tem seus amigos por perto e fica cada vez mais chateada em ter que fazer tudo sozinha – momentos de solidão deixam de ser tão bons quando você é obrigada a estar só o tempo todo. É realmente horrível ser uma com-namorado-porém-estamos-longe, ainda mais quando se considera o agravante daquela coisa chata que bate de vez em quando (ou de vez em sempre) chamada saudade. As chateações das suas tias-Mirtes ficam cada vez mais insuportáveis. Sempre que te vêem elas têm que perguntar como vai o namoro, você diz que vai bem, obrigada e elas dizem que é muito difícil manter um relacionamento à distância, mas que você arruma outro namorado rapidinho. Ao que você responde com um sorriso amarelo em sinal de concordância enquanto pensa internamente “eu não quero arranjar outro! Pára de botar olho grande no meu namoro, sua maldita agourenta!”. Então chega o Dia dos Namorados e você percebe que tudo pode ser pior. Para quê procurar um presente legal ou escrever algo legal se você só terá oportunidade de estar com o seu namorado dali a um ou dois meses? Você sente raiva de tudo e tem vontade de atirar pela janela TV, rádio, revistas, qualquer coisa que lembre essa data odiosa. Você tem cada vez mais certeza que o dia 12 de Junho é uma data demoníaca inventada por algum sacana com o único objetivo de tripudiar da sua condição de com-namorado-porém-estamos-longe. Tudo o que você quer é que isso passe logo para que você possa curtir sua infelicidade em paz sem ninguém tentando te fazer se sentir ainda mais infeliz 50 milhões de vezes por dia.


Por Lady Sith às [09:06]

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[11.6.07]

[Como ser um narrador em oito lições]

Ser narrador de futebol é um dos empregos mais fáceis que existem. Não é nada que exija um grande esforço ou preparo, talvez só um estoque de balas de gengibre para recuperar a garganta a cada grito esgoelado e exagerado de gol. Além de narrar (dããã, jura?) tudo o que acontece em campo, um locutor só tem que encher os momentos menos interessantes com alguns comentários menos interessantes ainda. E o curioso é que esses comentários são sempre similares, independente de qual seja a pessoa que esteja transmitindo o jogo. Posso jurar que existe uma manual que ensina a ser locutor. E posso imaginar que os seguintes tópicos figurem entre suas dicas:

1 – Apresente estatísticas irrelevantes: os minutos que antecedem o início da partida são os mais propícios para a ocorrência de embromation. Para evitar que os espectadores troquem de canal, o locutor deve apresentar as estatísticas mais mirabolantes e inúteis, do tipo: “o Atlético de Itaquaquecetuba nunca perdeu para o Cabroboense quando este jogou de meias listradas” ou “em partidas realizadas no solstício de verão, houve 5 vitória de A, 4 de B e 2 empates”.

2 – Dê destaque ao jogador estreante: se houver um estreante em campo, não perca a oportunidade de focar seus comentários nele. Se a estréia ocorrer contra o seu ex-time, então, será um prato cheio. Peça aos repórteres para colar no fulano e perguntar se ele irá comemorar quando sair o gol, discuta com os seus comentaristas o provável nervosismo do pobre coitado e deseje boa sorte a cada vez que a imagem do jogador surgir em seu monitor.

3 – Exalte o companheirismo entre adversários: antes do início do jogo é comum surgirem cenas em câmera lenta (editores de jogos de futebol têm fixação por câmera lenta, devem ser aprendizes de John Woo) de jogadores se cumprimentando. Neste momento, você deve dizer como é bonito ver a amizade prevalecendo entre os adversários. E deve fazer votos para que esse espírito prevaleça durante a partida – você sabe que não prevalecerá e que os jogadores se matarão em campo, mas não custa fingir.

4 – Exalte a presença da família: não perca a oportunidade quando vir qualquer imagem do que possa ser uma família. Use as seguintes palavras: “como é bonito ver as famílias de volta aos estádios. É deste clima de tranqüilidade e alegria que o futebol brasileiro precisa”. Em seguida, faça um discurso a favor da paz nos estádios.

5 – Fale sobre o tempo: você não é o garoto da previsão, mas falar sobre o tempo é a encheção de lingüiça-mor, então você deve usar deste expediente. Complete a previsão do tempo com comentários sobre como é bom jogar com o sol ou sobre as dificuldades de uma partida disputada sob chuva.

6 – Faça piadinhas sem noção: um gol feito perdido, uma comemoração bizarra, uma faixa inusitada na torcida, tudo pode ser motivo para você soltar uma piadinha cretina que só terá graça para você e para o comentarista puxa-saco.

7 – Tenha uma obsessão mal-explicada por crianças: calma, não é nada relacionado à pedofilia, mas narrador de futebol que se preze deve amar imagens de pequenos torcedores. Discorra sobre como é bonito ver a paixão pelo esporte surgindo tão cedo e eleja a imagem da comemoração infantil como o momento mais bonito do jogo.

8 – Faça perguntas óbvias: é de bom tom fazer uma espécie de balanço ao final do jogo. Na verdade, é de bom tom fazer hora até a próxima atração começar, mas a gente finge que o balanço é importante. Pergunte ao comentarista obviedades do tipo: “essa derrota foi prejudicial para o Sport?”, “uma vitória é importante para levantar a moral do time nesta altura do campeonato?” ou “o empate foi um resultado justo?” e depois encerre a transmissão fazendo votos de que telespectador volte a sintonizar na próxima semana para conferir mais um duelo imperdível.

* Desculpem mais um texto em forma de lista, mas estou realmente sem inspiração.


Por Lady Sith às [16:23]

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