[12.6.07]

[Desabafo]

Então você lembra a época em que não tinha namorado. Você encontrava seus amigos com freqüência, ia sozinha ao cinema ou dar uma volta na praia e se sentia perfeitamente feliz ouvindo música alta ou lendo um bom livro. Não havia nada extremamente terrível em ser uma sem-namorado, apenas as desvantagens normais desse estado, entre elas uma coisa chata que batia de vez em quando chamada solidão. A única coisa que você achava mesmo insuportável era agüentar a chateação de suas tias-Mirtes que sempre que te viam tinham que perguntar se você tinha namorado. Você dizia que não, não tinha, mas que sim, estava feliz assim. Ao que elas respondiam com um sorriso amarelo em sinal de concordância enquanto pensavam internamente “ih, tadinha. Se continuar nesse ritmo vai ficar encalhada”. Aí chegava o Dia dos Namorados e você percebia que havia coisa muito pior do que o interrogatório das suas tias. De repente surgiam flores e corações em todos os lugares, os noticiários só exibiam matérias sobre os presentes que você poderia dar para o seu namorado (para quem?) ou sobre programas para fazer a dois (que dois?) e parecia impossível andar pela rua sem se deparar com casais posando de apaixonadinhos e se tratando por apelidos melosos e ridículos. Você tinha certeza que o 12 de Junho era uma data demoníaca inventada por algum sacana com o único objetivo de tripudiar da sua condição de sem-namorado. Tudo o que você queria era que isso passasse logo para que você pudesse estar sozinha em paz sem ninguém lembrando 50 milhões de vezes por dia como você deveria ser infeliz por não ter alguém para chamar de seu.

Só que um dia você (finalmente) arruma um namorado. Você continua encontrando seus amigos com freqüência, indo sozinha ao cinema ou dar uma volta na praia e se sentindo perfeitamente feliz ouvindo música alta e lendo um bom livro, mas você percebe como todas essas coisas ficam melhores quando se tem companhia. Sua vida passa a ser muito mais divertida – se você teve a sorte de encontrar um cara bacana e se não for uma namorada pé-no-saco, óbvio. Até as chateações das suas tias-Mirtes – porque tias-Mirtes que se prezam têm que arranjar motivos para te aporrinhar mesmo que a sua vida seja a mais supra-sumo-ultra-hiper-mega-maxi-top-perfeita do universo – não parecem assim tão ruins. No entanto, você percebe mesmo que as coisas estão diferentes quando passa a achar que o Dia dos Namorados é uma data agradável. Ok, você ainda quer que todas as flores e corações se explodam, ainda odeia as matérias especiais dos noticiários e ainda sente náuseas ao ver casais posando de apaixonadinhos e se tratando por apelidos melosos e ridículos, mas você compra um presente legal, escreve uma cartinha legal – porque se o Dia dos Namorados é uma data inventada pelas companhias de cartões pra fazer as pessoas se sentirem como merda, não é você que vai sustentar esses tratantes – e pensa num programa legal (nada que envolva jantares românticos ou outros clichês parecidos) para vocês fazerem. Você deixa de achar que essa é uma data demoníaca e consegue se sentir feliz no dia 12.

Aí acontece uma merda gigantesca na sua vida – merda essa que, para seu espanto, algumas pessoas insistem em dizer que foi uma coisa boa, muito boa, realmente genial – e você se torna uma com-namorado-porém-estamos-longe. Você também não tem seus amigos por perto e fica cada vez mais chateada em ter que fazer tudo sozinha – momentos de solidão deixam de ser tão bons quando você é obrigada a estar só o tempo todo. É realmente horrível ser uma com-namorado-porém-estamos-longe, ainda mais quando se considera o agravante daquela coisa chata que bate de vez em quando (ou de vez em sempre) chamada saudade. As chateações das suas tias-Mirtes ficam cada vez mais insuportáveis. Sempre que te vêem elas têm que perguntar como vai o namoro, você diz que vai bem, obrigada e elas dizem que é muito difícil manter um relacionamento à distância, mas que você arruma outro namorado rapidinho. Ao que você responde com um sorriso amarelo em sinal de concordância enquanto pensa internamente “eu não quero arranjar outro! Pára de botar olho grande no meu namoro, sua maldita agourenta!”. Então chega o Dia dos Namorados e você percebe que tudo pode ser pior. Para quê procurar um presente legal ou escrever algo legal se você só terá oportunidade de estar com o seu namorado dali a um ou dois meses? Você sente raiva de tudo e tem vontade de atirar pela janela TV, rádio, revistas, qualquer coisa que lembre essa data odiosa. Você tem cada vez mais certeza que o dia 12 de Junho é uma data demoníaca inventada por algum sacana com o único objetivo de tripudiar da sua condição de com-namorado-porém-estamos-longe. Tudo o que você quer é que isso passe logo para que você possa curtir sua infelicidade em paz sem ninguém tentando te fazer se sentir ainda mais infeliz 50 milhões de vezes por dia.


Por Lady Sith às [09:06]

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