[9.11.05]
[Ah, a solidariedade humana]
Recife, 25 de Outubro de 2005
Local: consultório médico lotado.
Lá estou eu me escondendo atrás de uma revista, tentando fugir dos terríveis puxadores de conversa, que têm em consultórios e filas de banco o seu habtat natural. Eis que escuto uma colocação que me chama a atenção: "Eu desligo os telefones quando vou dormir. Depois que eu, meu marido e meu filho estamos em casa, não gosto de ser incomodada. Um dia minha tia ligou de madrugada para avisar que o meu tio morreu. Não sei pra quê ligar para alguém numa situação dessas. Ninguém vai poder fazer nada, o certo é esperar até de manhã, pelo menos não atrapalha o sono dos outros.".
Sinceramente, eu fiquei chocada. Nunca tive a infelicidade de perder um parente próximo ou um amigo. Mas quando isso acontecer, tenho certeza que ficarei angustiada e procurarei alguém para me consolar e me dar apoio, não importa quão tarde seja. Imagino que foi isso que aconteceu com a tia dessa senhora. O marido (ou irmão) morreu, ela ficou desolada e foi em busca de alguém que pudesse lhe dar algum conforto. Mal imagina o quanto deve ter sido xingada por ter atrapalhado o precioso sono da sobrinha.
Agora eu imagino qual seria a reação dessa mulher se um dia, depois que estivessem em casa ela, o marido e o filho, acontecesse alguma tragédia. Vamos imaginar que ela acorde de madrugada por uma razão qualquer e encontra os corpos dos dois na sala (bate na madeira! Espero que isso não aconteça). Qual seria a reação dela? Será que (a) voltaria para a cama e deixaria para resolver essa situação depois (afinal, ela tem que descansar), (b) ligaria para o 190 e ficaria esperando sozinha ou (c) ligaria para algum familiar ou amigo que pudesse lhe confortar e fazer companhia? Eu voto na última opção. Ou talvez eu esteja enganada e ela prefira dormir, mesmo.
É por essas e outras que às vezes a solidariedade humana me comove...
Por Lady Sith às [13:30]
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