[25.4.06]
[Escrevendo]
Eu não gosto de nada que escrevo – estou só emitindo uma opinião, não escrevi isso para vocês comentarem "ah, mas você escreve muito bem blá, blá... adoro seus textos e coisa e tal". Isso foi uma das razões que me fizeram desistir de fazer jornalismo e que me fizeram pensar tanto se eu deveria ou não ter um blog. Também é por isso que eu escrevo meus textos diretamente na página do Blogger e publico sem reler. Ás vezes eles saem com alguns erros gramaticais ou de digitação que eu só corrijo depois de algumas horas para não sofrer a tentação de apagá-los. Às vezes acho que eles são tão bestas que tenho vergonha e me dá vontade de apagar todo o blog. Acho que o problema está no meu, na falta de um nome melhor, estilo. Por que essa necessidade de escrever como se estivesse falando com alguém? E para quê deixar transparecer seu senso de humor bobo e sua personalidade ranzinza? E precisa ser tão prolixa? É isso, definitivamente não gosto da maneira que escrevo.
Às vezes tenho muita vontade de mudar. Leio alguns blogs e penso: “porque eu não escrevo esses textos filosóficos sobre como me sinto? Seria uma boa idéia”. Mas aí eu percebo que não consigo escancarar meus sentimentos para qualquer um. Além disso, quando estou triste – o que tem acontecido com certa freqüência – não gosto de falar sobre isso, pois fico ainda mais triste, tenho vontade de chorar (ou choro mesmo) e acabo me achando boba por causa disso. E tem também o problema de ser “filosófica”. Eu simplesmente não consigo. Não tenho o dom (ou a paciência) de fazer analogias com o vôo dos pássaros ou com a fugacidade das coisas e pessoas. Acho melhor ser simples e direta. Pronto, idéia abandonada.
Em outras ocasiões, penso como seria legal se eu fosse uma observadora crítica da realidade. Ler uma notícia e expressar uma opinião inteligente, esperta, engraçada e... sucinta. Pronto, aí está o problema. Como domar minha prolixidade? Não dá, é mais forte do que eu. E tem também o problema de que inteligente, esperta e engraçada eu só consigo ser em conversas cara a cara. Escrevendo, qualquer resquício de humor vai pelo ralo. Então penso em escrever contos. Contos seriam legais, mas acho que teria mais vergonha ainda de publicá-los. Poxa, são um expressão artística e não apenas um punhado de pixels traduzidos em letrinhas. E eu também poderia ter que enfrentar críticas de pessoas que se acham tão entendidas nesse tipo de expressão literária que se julgariam no direito de me dizer qualquer coisa, esculhambar mesmo. Não faria nada bem para a minha auto-estima. E, como não sou de agüentar desaforo calada, eu teria que gastar muito tempo discutindo com esse tipo de gente. Não que eu não goste de discutir (AMO!), mas uma hora iria cansar. Mais duas idéias atiradas ao fogo.
Por mais que eu pense e procure, não consigo mudar esse estilo de jeito nenhum. Deve ser porque ele é a tradução perfeita do que eu sou: faladeira – mas só quando vou perdendo a timidez –, dona de um senso de humor bobo, porém esperto, alguém que não tem a necessidade de ser feliz e engraçada o tempo todo, que não tem a menor vergonha de deixar transparecer sua irritação ou melancolia e que tem um temor absoluto de ser mal-compreendida. Então a mudança teria que ser de personalidade, e não apenas de estilo. Mas eu não quero mudar, gosto de ser assim. Espero que seja só uma questão de tempo até eu poder dizer que gosto de escrever assim.
Por Lady Sith às [17:28]
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[7.4.06]
[Mexe com isso]
Eu sou uma pessoa muito tímida e discreta. Tenho pavor de chamar a atenção de muitas pessoas e, por isso, raramente emito uma opinião diante de um grupo muito grande – porque é claro que não sinto vergonha de falar o que penso em um grupo de amigos, por exemplo. Por isso a maioria das pessoas que não me conhecem direito acha que eu sou uma songa monga, que estou sempre quieta no meu canto e sou incapaz de discordar de algo ou gerar polêmica. Ledo engano. Quando uma coisa me tira do sério ou me incomoda, sai de baixo. Boto a boca no trombone sem nenhuma vergonha. Principalmente quando é algo que me afeta diretamente.
Algumas coisas me deixam tão indignada que me fazem ter a necessidade de espalhar aos quatro ventos o motivo da minha indignação. Uma dessas coisas aconteceu esta semana. Acompanhem: daqui a três meses eu serei uma bacharela em Administração. Lá na faculdade estamos naquela fase de organizar as cerimônias, escolher professores homenageados e decidir qual será o nome da turma. Foi exatamente nesse ponto que o bicho pegou. Imaginem vocês que o nome mais votado foi “A turma que mexe com isso”. Faça-me o favor! Como é que pessoas que estudaram durante quatro anos e meio na melhor faculdade de Administração do estado, ao menos é o que dizem, têm a coragem de colocar uma expressão idiota e de duplo sentido para nomear sua turma? Como é que alguém que durante todo esse tempo se preparou para ser um excelente profissional tem o orgulho de dizer que “mexe com isso” como se fosse uma pessoa despreparada? Eu achei completamente inadequado, ao menos para uma turma de formandos. No entanto, consigo imaginar vários lugares onde a expressão estaria bem colocada:
Em uma boca de fumo: fala a verdade, “mexer com” alguma coisa não parece gíria de bandido? Para mim, é. Posso ver a reportagem do Fantástico adentrado uma boca de fumo com uma câmera escondida. Nela, um repórter disfarçado finge estar interessado em comprar drogas e pergunta ao traficante quais são os produtos vendidos. Eis que ele responde: “mano, aqui a gente mexe com todo o tipo de tóxico (leia-se “tóchico”, para ficar uma coisa bem Mirtes). Tem maconha, cocaína, heroína e... Xiii, lá vem os hómi, rapa todo mundo daqui! Perdeu, perdeu”. Conclusão que eu tiro do nome da minha turma: somos uma quadrilha. Em um anúncio de jornal: “mexer com” algo também pode ser gíria de biscateiro. Eu consigo imaginar um anúncio de profissional liberal: “Mexo com encanamento, fiação, e aparelho de TV. Qualquer coisa que precisar de conserto é só chamar. Eu mexo com isso e dou um jeito!”. Conclusão que eu tiro do nome da minha turma: não estamos realmente qualificados para nada, mas damos um jeitinho em qualquer coisa.
Em um prostíbulo: expressão ambígua e de duplo sentido, “mexer com isso” bem que podia ser o nome de alguma casa de tolerância onde a Bruna Surfistinha trabalhou. Afinal, nesses lugares elas realmente “mexem com isso”. Não só com isso, mas com aquilo – principalmente com aquilo – além de mexer com homens, mulheres e casais. Conclusão que eu tiro do nome da minha turma: somos profissionais do sexo oferecendo os nossos serviços.
Em uma letra de axé: eu juro que quando eu vi o nome “Turma que mexe com isso”, a primeira coisa que veio à minha cabeça foi: “meu Deus, o Cumpadi Washington vai apresentar a minha festa de formatura!”. Imagina ele com aquele bigodinho de gigolô dizendo “mexe com isso, ORDINÁRIA!” daquele jeito que só ele consegue fazer. Nossa, que sonho! Se ele vier com a Carla Perez, a Sheila, a outra Scheila e as mais de mil ex-dançarinas do É o Tchan! será a glória. Conclusão que eu tiro do nome da minha turma: somos dançarinos de banda de axé que mexem o bumbum em danças libidinosas ao som de músicas de qualidade duvidosa.
Para tranqüilizar vocês, aviso que o nome da minha turma não será mais a “Turma que mexe com isso”. Eu superei minha timidez e mandei um e-mail que encorajou todos aqueles que estavam insatisfeitos a protestar. A questão foi levada ao diretor da faculdade e ele teve o bom senso (coisa que falta na maioria dos integrantes da minha sala) de vetar o nome. Estou salva! Mas será que ainda dá para ter o Cumpadi Washington apresentando a formatura?

"Lá vem a Turma que mexe com isso. Mexe, administradora ORDINÁRIA!"
Por Lady Sith às [17:14]
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